PROJETO
DE LITERATURA
MENINA BONITA DE
LAÇO DE FITA
(Ana Maria Machado)
Era uma vez
uma menina linda, linda.
Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos
e bem negros.
Apele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar
com laços de fita coloridas. Ela ficava parecendo uma princesa das terras da
áfrica, ou uma fada do Reino do Luar.
E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso
sempre tremelicando. O coelho achava a menina, a pessoa mais linda que ele
tinha visto na vida.
E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...
Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão
pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela.
Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele
pretume, ele ficou branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite
toda fazendo xixi. Mas não ficou nada preto.
- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem
conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto
e redondo feito jabuticaba. Mas
não ficou nada preto.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de
feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se
meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...
Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia
estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais,
os tios, as avós e até com os parentes tortos.
E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina tinha era
que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a
noite, que achava aquele coelho branco uma graça.
Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho
quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco,
branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha.
Já se sabe afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.
E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava
alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão
pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da
minha madrinha...
PROJETO:
ÁREA DE CONHECIMENTO: Língua
Portuguesa
OBJETO DE ESTUDO:
Diversidade Étnico-Cultural Brasileira
Ensino Fundamental – 1º ao 5º ano
INTRODUÇÃO:
Desenvolvimento do tema da
diversidade, não somente com o objetivo de apresentar aos alunos a riqueza da
diversidade étnico-cultural brasileira, contribuindo para que as crianças se
apropriem de valores como o respeito a si próprias e ao outro, mas também com o
objetivo de elevar a auto-estima do aluno negro.
A sugestão é que as
atividades sejam desenvolvidas durante um período mínimo de cinco dias,
(lembrando que essa sugestão de aulas não poderá ocorrer num dia só) no decorrer
dos quais o professor irá:
1. Apresentar a
história à classe, contando-a, sem mostrar o livro.
2. Pedir às crianças que dêem
um título (um nome) à história ouvida, escrevendo na lousa as sugestões
apresentadas.
3. Contar que quem
escreveu a história foi Ana Maria Machado, uma escritora brasileira que
escreve livros para crianças, principalmente. Se o(a) professor(a) já tiver
lido para a classe outros livros da autora, relembrar o fato aos alunos, se
possível, mostrando-os.
4. Dizer o título do livro:
"Menina bonita do laço de fita" e comparar com os nomes
apresentados pelos alunos na atividade 2, perguntando a eles se gostaram
mais do nome escolhido por eles próprios ou o escolhido pela autora; mostrar às
crianças que nem sempre temos a mesma opinião sobre um mesmo fato ou situação e
que o importante é que aprendamos a respeitar todas as opiniões; comentar os
nomes escolhidos pelos alunos, na medida em que se afastam ou se aproximam do
nome original da história.
5. Mostrar a capa do
livro aos alunos. "Ler" a imagem da capa com eles, fazendo
perguntas sobre a ilustração: a cor da pele da menina, do coelho, o cabelo da
menina (quem usa cabelo assim? é difícil fazer um penteado como esse? leva
muito tempo?). Destacar o olhar apaixonado, pensativo-sonhador do coelho. Pedir
aos alunos que mostrem o que mais na ilustração indica que o coelho está
apaixonado. Dizer o nome do ilustrador e falar sobre a importância da
ilustração na leitura.
6. Ler o livro para os
alunos, agora parando em cada página, mostrando as imagens e destacando as
palavras e expressões que valorizam a menina, que a retratam como bela:
"Era uma vez uma menina linda, linda. Os olhos dela pareciam duas
azeitonas, daquelas bem brilhantes. Os cabelos eram enroladinhos e bem negros,
feitos fiapos da noite. A pele era escura e lustrosa, que nem o pêlo da pantera
negra quando pula na chuva.". Os adjetivos e comparações usados pela
autora vão além de aguçar a imaginação infantil (olhos = duas azeitonas
daquelas bem brilhantes; cabelos = fiapos da noite; pele = pêlo da pantera
negra quando pula na chuva); eles evocam uma imagem positiva da menina,
valorizando nela aspectos como cabelo e cor de pele, que normalmente são
"maquiados", escondidos, quando a personagem é negra. A beleza natural
da menina ganha enfeites que reforçam seu encanto, dando a ela ares de
personagem de contos de fadas, pois: "Ainda por cima, a mãe gostava de
fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laço de fita colorida. Ela
ficava parecendo uma princesa das Terras da África, ou uma fada do Reino do
Luar". Esses dois trechos contribuem para que, ao imaginário infantil a
menina seja apresentada como uma bela princesa de contos de fadas, o que é
extremamente positivo e eleva a autoestima da criança, que se identificará com
a heroína. Perguntar aos alunos se eles têm uma idéia de por que o coelho quer
ter a cor de pele da menina. Será que ele não está satisfeito com a própria
cor? Comentar com as crianças as respostas dadas. É importante que o (a) professor
(a) destaque que além de muito bonita, essa heroína é também muito esperta e
criativa, pois mesmo não sabendo responder às perguntas do coelho, sempre tem
uma solução para que ele se torne da cor desejada: cair na tinta preta, tomar
muito café, comer muita jabuticaba... Antes de ler o trecho que fala da
intervenção da mãe no diálogo entre a menina e o coelho, perguntar se alguém
lembra como era a mãe da garota. Comparar o texto escrito ("uma mulata
linda e risonha") e a ilustração da mãe que é a de uma linda moça, moderna,
bem vestida e arrumada (enfeitada, pintada, cabelos penteados), o que também
contribui para que a classe forme uma imagem estética positiva da mulher negra.
7.
Aproveitar a descoberta do coelho ("a gente se parece sempre é com
os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos") e perguntar aos
alunos com quem eles acham que se parecem. Essa atividade pode
desdobrar-se em outras, por exemplo:
a) as crianças
podem entrevistar os pais para saberem com quem se parecem e apresentar
os resultados da pesquisa oralmente (Por exemplo, dizendo frases como: Minha
mãe diz que meus olhos são parecidos com os dela, mas que meus cabelos e minha
boca se parecem com os da minha avó.);
b)
os alunos podem levar fotografias de parentes (pais, avós, tios, irmãos,
por exemplo); atrás de cada foto deve constar o nome da criança que a trouxe;
os alunos dividem-se em grupos de quatro. As fotos de cada grupo são
empilhadas, com a frente para cima; os alunos tiram a sorte para ver quem
começa jogando, o primeiro pega a primeira foto e tenta adivinhar quem a
trouxe, observando as semelhanças entre as fotos e os colegas de grupo; se foi
ele mesmo quem trouxe a foto, deve embaralhar a pilha, para que a fotografia
saia do primeiro lugar; enquanto for acertando, o jogador continuará jogando.
Ganhará o jogo quem tiver acertado mais. Ao final, as crianças devem contar aos
colegas de grupo quem são as pessoas que estão nas fotos. Terminada a
brincadeira, o (a) professor (a) colocará para a turma a seguinte questão:
somos parecidos com as pessoas da nossa família? O coelho branco estava certo
em suas conclusões?
8. Pedir às crianças que
desenhem: a) a menina do laço de fita e a mãe; b) o coelho e sua nova
família; c) suas famílias.
9.
Organizar uma roda de conversas. Reler o trecho: "O coelho achava a
menina a pessoa mais linda que ele tinha visto em toda a vida. E pensava: - Ah,
quando eu casar quero ter uma filhinha pretinha e linda que nem ela."
Questionar: O que é ser bonito? Como uma pessoa deve ser para ser bonita?
Provavelmente surgirão respostas diferentes umas das outras. Retomar o que foi
dito na atividade nº 4 e mostrar às crianças que nem sempre temos a mesma
opinião sobre um assunto e que isso é muito bom, pois o mundo seria muito
aborrecido se todos pensassem do mesmo jeito e se, por exemplo, só existisse um
único modelo de beleza. Destacar que o importante é respeitar as diferenças.
Conversar com a classe sobre os padrões de beleza existentes em "Menina
bonita".
10.
Mostrar, num mapa-múndi, os cinco continentes - a América, a Europa, a
Ásia, a África e a Oceania, ressaltando que eles são divididos em países, cada
um com seus costumes e tradições, suas festas, músicas e danças, suas religiões
e seu jeito de ser, pois ninguém é igual a ninguém e é isso que dá graça à
vida.
11.
Conversar com as crianças sobre as "famílias" (povos) que formam o
Brasil: os índios, o negro, o colonizador europeu, os imigrantes italianos,
japoneses, árabes, judeus etc. Explicar que esses povos foram se misturando,
para formar a grande família brasileira, que tem as características de suas
origens. Lembrar aqui as contribuições desses povos nas festas, na música, na
culinária, nas histórias etc.
12.
Retomar a atividade 10 e complementá-la, destacando a importância do
respeito à diversidade étnico-cultural que compõe o Brasil.
Essas são algumas
sugestões, apenas. O professor deve assumir uma postura de combate a
todas as formas de discriminação e preconceito, valorizando as diferentes
etnias que constituem o Brasil e que, de certa forma, estão representadas nas
crianças que compõem uma sala de aula na Educação.
Para finalizar, um destaque: para assumir o compromisso de
trabalhar a diversidade cultural e étnica, o professor precisa ter segurança
quanto ao que será desenvolvido.
Um
caminho para isso é a reflexão conjunta dos professores nas reuniões
pedagógicas, procurando respostas a indagações como: Sou preconceituoso? Já
vivi situações de discriminação ou preconceito? E, tratando-se da etnia negra:
O que sei sobre o continente africano? O que sei sobre as condições dos
africanos escravizados no Brasil? O que sei sobre suas lutas de resistência,
seus heróis, suas histórias? Conheço a história de Zumbi? A influência que os
africanos escravizados tiveram na formação da identidade brasileira, nas
religiões, festas, cantigas, danças, culinária e, principalmente, histórias que
contribuem para ampliar o repertório e povoar o imaginário das crianças com
representações positivas do negro?
“Nossas escolas pretendem formar cidadãos”.
Mas cidadania não combina com desigualdade,
assim como democracia não combina
com preconceito e discriminação.
Se as crianças vão à escola é porque
desejamos
que se desenvolvam plenamente como seres humanos...”
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